O blog Livros Fantasia tem o prazer de apresentar sua primeira entrevista.
Começando já com o pé direito, batemos um papo com o escritor Rober Pinheiro, onde ele fala um pouco sobre suas obras, processo de criação e também sobre o mercado editorial.
Rober é autor do livro Lordes de Thargor - O Vale do Eldor e tem participações em diversos outros.
Guardem bem esse nome, ainda vão ouvir falar muito nele, então é bom ficar esperto e já sair na frente!
Livros Fantasia: Como e quando começou seu interesse pela literatura?
Rober: Minha paixão pela literatura vem desde pequeno quando, no pouco tempo que sobrava entre trabalho e escola (comecei a trabalhar cedo, por volta dos 11 anos) eu me enfiava de cabeça em uma pilha de revista em quadrinhos. Comecei, como todo bom moleque de 9, 10 anos, pelas HQ's da Turma da Mônica e gibis de super-heróis. Aos poucos, fui migrando pros livros, e aos quinze, já tinha lido nomes interessantes da literatura mundial, como García Márquez, Salinger, Saramago, Ubaldo Ribeiro e Murilo Rubião. O negócio da escrita começou por essa época também. Ganhei de presente uma agenda escolar e comecei a preeencher as páginas com histórias de deuses e guerreiros (algumas de super-heróis também) e fui criando pequenos contos desconexos, cuja única ligação entre si eram a temática fantástica. Algum tempo depois, mostrei esses contos a um amigo e ele me sugeriu reuní-los em algo maior e escrever sobre isso. Foi o primeiro passo para a criação do mundo de Thargor. A partir daí, dos contos e da ideia, comecei a esboçar um universo inteiro, com geografia, cronologia, raças, crenças, mitos e tudo o mais que pudesse me ajudar na composição de uma história que fosse ao mesmo tempo interessante e que tivesse embasamento em tudo aquilo que eu havia lido/visto/aprendido. Pendi pra fantasia pela capacidade que ela tem de nos mostrar o quanto podemos enxergar de nós mesmos através do uso do lúdico. Dois autores a quem considero como minhas maiores influências, o Gabriel Garcia Márquez e o Murilo Rubião, brincam com esse dualismo real/mágico com um primor incomparável. E foi isso, essa capacidade de trazer o real através do uso de elementos mágicos que me atraiu até a literatura de fantasia.
Livros Fantasia: Poderia falar um pouco sobre Lordes de Thargor - O vale do Eldor?
Rober: LdT é um livro de fantasia que, apesar de trazer elementos comuns a este gênero, como dragões, guerreiros e reinos mágicos, foge um pouco do tradicional a que estamos acostumados a ver. Por isso mesmo, costumo chamá-lo de fantasia moderna. O livro narra as desventuras de um jovem humano que se vê, de repente, às voltas com um artefato mágico e a descoberta de um mundo desconhecido que está muito próximo da gente, reinos de perigos e mistérios escondidos aqui mesmo na Terra, atrás de cortinas mágicas e vales encantados. Mais do que usar os elementos clássicos da fantasia, ou de transpostar o jovem herói a um reino distante, em Lordes de Thargor eu procuro fazer o inverso, trazer o mundo mágico para cá e apresentar outros modelos fantásticos, raças e reinos baseados em lendas e nas muitas mitologias existentes e não apenas no imaginário fantástico corrente. Assim, no livro, há referências desde as culturas orientais, como a hindu e a chinesa, às lendas do nosso folclore, apresentadas sob uma nova roupagem. O fato de a história se passar no Brasil e nos dias atuais também é um diferencial do livro, mostra de que podemos produzir fantasia nacional desvinculada dos modelos estrangeiros.
Livros Fantasia: No meio fantático hoje em dia se fala muito em "clichê", talvez pelo demasiado uso de criaturas Tolkianas. No seu livro temos diversas criaturas e todas bem diferentes umas das outras. Como foi o processo de criação?
Rober: Li Tolkien e, como muitos outros apreciadores da ficção fantástica, o considero como um dos grandes responsáveis pelo atual status que esta literatura alcançou. Contudo, seu modelo de fantasia é bem característico e remete a uma cultura da qual eu não tenho nenhuma proximidade. Quando comecei a esboçar a ideia de Thargor, queria trazer para a história algo que me fosse próximo e que tivesse um significado não só para a criação da mitologia da série, mas que também evocasse algo para quem o lesse. Sempre fui muito ligado em mitologia e religião (num conceito mais abrangente, religião enquanto manigestação da crença de um povo ou cultura) e foi a partir desse gancho que resolvi desenvolver as muitas raças de Thargor. Cada uma das raças que desfila pelas páginas do livro traz um pouco dessa mistura de crença e fé que surgiu ao longo da história humana. E, como nós, brasileiros, carregamos um pouco dessas
múltiplas culturas dentro da gente, não foi muito difícil situar e extrapolar cada uma delas, fantasticamente falando, claro, dentro das páginas do livro. Livros Fantasia: Utilizando "cortinas mágicas", você usa o Brasil como cenário. Como foi ambientar todas as raças dentro em nosso país?
Rober: Na verdade, as cortinas mágicas presentes no livro evocam a questão da separação, da necessidade de uma cultura ter de viver à margem de outra apenas pelo fato de não serem iguais ou compartilharem a mesma visão das coisas, nada muito diferente do que vivenciamos hoje, aonde um povo xis tem que se submeter a um povo ypsílon, quase sempre pela força. Guardadas as devidas proporções, vemos isso quase que diariamente nas reservas indígenas protegidas por leis (cortinas mágicas?!?!), nas lutas entre etnias africanas e até mesmo entre culturas religiosas distintas. Em Thargor, essa separação se dá pelo viés da fé, pelo fato de um povo não aceitar mais as crenças de outro; enquanto um continua acreditando na magia o outro a relegou ao esquecimento. Situá-los no Brasil foi uma maneira de evocar também a nossa própria intolerância. Já que não podiam mais viver no Velho Continente, sua primeira morada, eles fugiram para as "terras do sul" em busca de um novo lar onde pudessem continuar adorando seus deuses sem provocarem a ira dos homens, mas a história mostrou que a intolênracia não encolhe lugar para acontecer, e o que restou foi a separação definitiva.
Livros Fantasia: Com qual personagem você mais se identifica? Por que?
Rober: Não tenho uma personagem preferida, por que todas são minhas preferidas.. rs. Gosto da teimosia e da ignorância (ignorância no sentido de ignorar, de não conhecer este novo mundo) do Deiv e de sua capacidade de aceitação do novo; da sabedoria e força de vontade do mago Namesin; da lealdade do Háriel; da dedicação de Dóra, da honradez do Rei Feros e por aí vai. Cada personagem traz algo de único para o livro e, na medida em que são únicos,todos são importantes para a história.
Livros Fantasia: Existem novos projetos em pauta?
Rober: Atualmente, estou escrevendo o segundo romance da série, chamado Lordes de Thargor, o Herdeiro de Seämus. Também participo como autor convidado da seleta de contos No Mundo dos Cavaleiros e Dragões, com organização de Ademir Pascale e farei o prefácio, além de participar com um conto, da antologia de ficção científica UFO - Contos Não Identificados, com organização da escritora Georgette Silen. Também está previsto para ser lançado no início do ano o quarto volume do projeto Paradigmas, que traz outro conto meu.
Livros Fantasia: Qual ou quais são seus autores preferidos e o que te inspira a escrever?
Rober: São muitos, mas alguns deles têm um lugar mais que reservado na minha estante: Gabriel García Márquez, Murilo Rubião, João Ubaldo Ribeiro, José Saramago, Marion Zimmer Bradley, GRR Martin... Aliás, gostaria de citar três séries poucos conhecidas pelos jovens leitores brasileiros e que considero como referenciais pra qualquer amante da fantasia. São elas: As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, que conta as histórias do círculo arthuriano sob uma ótica feminina; A Trilogia de Bartimaeus, de Jonathan Stroud, que narra as desventuras de um djinn de 5.000 anos que se vê transformado em escravo de um mago iniciante; e Uma Canção de Gelo e Fogo, de G.R.R. Martin, uma fantasia épica com toques precisos de realidade que impressiona pela capacidade narrativa e de ambientação.
O que me inspira a escrever? Hum, talvez a necessidade de contar uma história através da minha história, de dividir um pouco daquilo que gosto com outras pessoas e da inspiração vinda destes grandes nomes que acabei de citar. Acho que um pouco de tudo isso!
Livros Fanrasia: No seu ponto de vista quais são as principais dificuldades do autor em início de carreira em nosso país? E quais barreiras a fantasia nacional encontra no mercado?
Rober: A grande dificuldade é vencer o medo presente que o mercado tem de investir em literatura de fantasia e no autor iniciante. Houve um crescimento a olhos vistos para a fantasia no Brasil nos últimos anos, coisa que só temos a agradecer, mas ainda estamos anos-luz do ideal. Também tem que se observar a questão da própria literatura. Com a internet, houve um boom de novos escritores, nem todos preocupados com a qualidade do que se escreve e, sim, preocupados apenas em escrever. Para um escritor que está começando agora, e até mesmo para aqueles que já têm anos de estrada, duas coisas são essenciais: escrever muito e ler mais ainda. Não adianta querer se tornar o mais novo escritor de sucesso do dia para a noite se não se tem uma base sólida de conhecimento para se criar e, acima de tudo, contar uma boa história.
Livros Fantasia: O que você acha de antologias? Elas ajudam um autor iniciante?
Rober: Nos últimos dois anos houve um aumento exponencial do número de antologias lançadas. Isso só veio a fortalecer o mercado, uma vez que abre espaço para um novo modelo de publicação e dá oportunidade a autores, iniciantes ou não, de mostrarem seus escritos. Participei de algumas antologias, como a Invasão e Paradigmas e, atualmente, faço parte de mais outras duas, No Mundo dos Cavaleiros e Dragões e UFO - Contos Não Identificados, e só tenho boas impressões e boas recomendações desses projetos.
Livros Fantasia: Agradeço a entrevista e desejo-lhe muito sucesso. Deixo aqui um espaço aberto para falar o que deseje e ainda não tenha sido perguntado.
Rober: Eu é que agradeço pelo espaço e pela oportunidade de falar um pouco sobre meu trabalho. Gostaria de fazer um convite a todos os leitores do Livros Fantasia: Dia 5/12, sábado próximo, a partir das 14:00 hs, vai acontecer a I Mostra de Booktrailers da Livraria Cultura, primeiro evento do gênero na América Latina, que tem como proposta apresentar os trabalhos de autores de literatura nacional (fantástica e mainstream). O evento contará com palestras, apresentação de booktrailers dos participantes (LdT, inclusive) e sessões de autógrafos. Quem ficou interessado em saber mais sobre o evento, basta dar uma passada no blog da mostra: http://mostrabooktrailers.blogspot.com/
E pra quem quiser saber um pouco mais sobre Lordes de Thargor, gostaria de deixar algumas informações aqui:
Lordes de Thargor, o Vale de Eldor Blog: http://www.lordesdethargor.com/
Sinopse: http://lordesdethargor.blogspot.com/2008/03/lordes-de-thargor-livro-01-o-vale-de.html
Primeiro Capítulo: http://lordesdethargor.blogspot.com/2008/06/lordes-de-thargor-o-vale-de-eldor_10.html
Booktrailer: http://www.youtube.com/watch?v=RV4GJsSAhKk
Booktrailer de Lordes de Thargor
O Vale do Eldor
Só lembrando que o Rober, este booktrailer e muito mais lhe aguardam na I mostra de booktrailers da América Latina.
13 comentários:
Você sabe o preço? No blog do livro diz que com o autor tem desconto, mas não fala nada sobre o preço.
Não tenho certeza pois comprei faz um tempinho, mas se não me engano, acho que foi R$ 37,00. Para ter certeza mande um email para o Rober, que ele não demora a responder.
contato@lordesdethargor.com
Rafael,
Muito obrigado pela entrevista e pelas palavras de apoio. Bacana demais ver iniciativas como a sua em prol da fantasia nacional. Nós, autores, só temos que te agradecer por isso.
Abraço e sucesso na nova empreitada do Livros Fantasia. Tenho certeza que muitas entrevistas bacanas surgirão aqui.
P.S: Respondendo a pergunta do amigo mais acima, pelo blog THARGOR o livro sai por R$ 37,00 (35% off) mais frete (para todo o Brasil) de R$ 6,00, totalizando R$ 43,00. Como vc postou, basta me mandar um email que esclareço melhor como fazer para adquirir.
O livro tbm vai estar à venda durante a I Mostra de Booktrailers, sábado que vem na Livraria Cultura do Market Place.
Seria muito bacana ter a participação de vc's!
Parabéns ao Rober, por todo o seu talento e dedicação. Não gostava de fantasia e ainda sou meio arredio, mas o livro do Rober me fez ver esse estilo com outros olhos e a respeitar ainda mais o talento e a criatividade do autor nacional, por quem tanto luto nos meus projetos.
Parabéns ao blog pela iniciativa da entrevista. Sucesso ao Rober e ao blog, que já começou com dois pés direitos. :-)
Valeu pelas palavras, Amado.
Vindas de vc, elas são um elogio e tanto.
Abraço!
Oi Rafa, ha quanto tempo não passo aqui! Dou de cara com uma entrevista, tá ficando importante, heim. Olha, posso te adiantar que já serviu para alguma coisa, ver um escritor falando da obra e do processo de confecção, faz parecer realmente um trabalho.
Me refiro a essa questão de fantasia, que você sabe, penso que é modismo. Beijos...FUI
Oi Márcia! Saudades de você.
E meu povo, não ligue não, em se tratando da Márcia, isso foi um grande elogio.
Gostei muito do teu blog, cara. Estou te senguindo. Tem como você me seguir também? http://emanoelferreira.blogspot.com/
Assim que criar um banner pra mim, gostaria de firmar parceria contigo. A ideia desse blog é muito boa. Parabéns.
Abraço.
Emanoel Ferreira.
Rober meu querido, que saudades!!!
Parabens!!!! A entrevista foi otima!!!
Te amo e te desejo todo sucesso do mundo. Vc merece!!!!
Bjs com carinho
Ci?!?!
Nossa, qto tempo.
Que bom que gostou da entrevista. Méritos do Rafael... rsrs
Bjos e brigadão pelo coment's.
Márcia, tudo bem?
Realmente, vendo por um prisma mais atual, a fantasia parece mesmo ser modismo, dado a quantidade de títulos e nomes novos que surgiram, principlamente nos últimos dois anos.
Mas, para muito além desse boom, temos ótimas opções e nomes dignos de, pelo menos, uma espiadela. Murilo Rubião, JJ Veiga, Bráulio Tavares, Érico Veríssmo e Ubaldo Ribeiro são alguns dos autores que, com certeza, trazem na sua literatura muito mais que um modismo passageiro.
Além, claro, dos nomes novos que, nem por isso, são ruins. Muito pelo contrário!
Poxa moça, dá um pouquinho de confiança e atenção pra gente... rs
Abraços
Rober, o Rafael me emprestou, ou melhor, me obrigou a ler o livro, pra que depois eu falasse, e ainda me disse que depois de ler, podia meter o malho se quisesse. Acho que ele confia muito na tua estoria, heim. E, pela entrevista da pra perceber que o livro foi estudado e que você esta realmente envolvido no meio, o que hoje é bastante incomum. Todo mundo hoje tem o subistituto do Harry Potter e só não foi ainda descoberto. =/
Acho isso meio engraçado, e são estas pessoas que acabam afastando muitos leitores desse gênero.
Bom, já falei d+, vou ler o seu livro e se prepare que se eu não gostar estou autorizada a "meter o malho" rsrsrs
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